“O parto humanizado empodera a gestante porque dor é diferente de sofrimento”, diz obstetra
Incentivar o parto normal humanizado é dever de todo médico obstetra porque a mulher tem o direito de sentir a dor do parto natural sem sofrimento nem sequelas
Desde muito pequenas, mulheres estão acostumadas a relacionar o parto a algo ruim e doloroso. Além disso, o parto se tornou uma espécie de escala de dor na sociedade. Porém, especialistas afirmam que uma premissas para uma boa experiência de parto é respeitar os desejos da gestante em todas as etapas e que o empoderamento feminino vai além da gestação e do parto. A sociedade está num período em que muito se discute sobre igualdade de gênero e a importância de mulheres em espaços decisivos. Isso contempla o empoderamento das gestantes, que vem ganhando cada vez mais força nesse contexto que merece e precisa ser melhor debatido.
No mês em que se comemora o Dia da Gestante, em 15 de agosto, é de suma importância destacar o papel das mulheres dentro do processo de planejamento do parto. “Uma das premissas para uma boa experiência de parto é que os desejos da mulher sejam respeitados em todas as etapas. Para que isso aconteça, não basta ter uma equipe preparada, os melhores equipamentos dedicados à saúde e a mais moderna infraestrutura hospitalar. É preciso que a mulher esteja consciente dos seus direitos e empoderada em relação às etapas da gravidez, inclusive para orientar os profissionais sobre as próprias expectativas diante do nascimento do bebê, ressalta o gineco/obstetra e coordenador do programa “Nascer Bem” do Sistema Hapvida/GO, Dr. Antônio Carlos Júnior.
De acordo com o especialista, o processo de empoderamento depende, por princípio, do interesse da mulher na busca por informações, o que pode ser feito a partir das consultas médicas, do acolhimento com uma equipe multiprofissional ou por meio de rodas de conversa com outras gestantes. A mulher pode preencher ainda alguns documentos para transferir, de maneira clara, os anseios à equipe. “A protagonista do parto é a mulher, então ela precisa ir em busca de informações A mulher jamais pode ser vista como ser de submissão e comando. Essa é uma visão arcaica. Tem que ser vista como um ser autônomo, empoderado e livre que conquista e faz seu universo”, detalha o obstetra Antônio Carlos Júnior.
Antes do parto
Durante a gestação, a mulher tem várias formas de buscar informações e começar a construir de forma documental como deseja o parto. Uma delas é frequentando rodas de conversa entre gestantes, que são encontros periódicos, geralmente organizados por obstetras dedicados ao parto humanizado, enfermeiras obstétricas ou doulas. Nesses momentos, são trocadas experiências de maternidade e repassados alguns conhecimentos sobre a vivência conjunta da gestação. As rodas também são espaços para formar e municiar de informações a rede de apoio da grávida, isto é, o companheiro e outros parentes. “Empoderar a mulher, na gestação, no parto e no pós-parto é devolver a ela o poder de escolha. E incentivar a mulher a fazer parto normal. Que parir e amamentar é saudável é devolver a ela o direito que lhe foi tirado pela classe médica e pela cultura brasileira. Hoje 80% das mulheres do mundo fazem parto normal. E no Brasil, esse índice é reduzido, precisamos devolver o poder de escolha do parto é muito importante”, alerta Dr. Antônio Carlos Júnior.
Outra forma de se preparar é realizar cursos de gestantes, aulas teóricas e expositivas que são oferecidas em alguns hospitais e clínicas sobre informações do período da gestação, o parto e o puerpério. Esses cursos costumam durar um dia inteiro e também podem ser frequentados em conjunto com a rede de apoio. O conhecimento adquirido nessas vias serve, entre outras questões, para embasar alguns documentos que a mulher precisará preencher ao longo da gestação. “Ter uma cirurgia como tecnologia, não quer dizer que é a melhor opção. A cesárea é uma ótima cirurgia quando bem indicada. Na obstetrícia, se a mulher pode parir normal, porque fazer cesárea? Porque é uma cirurgia e tem consequências e a cesárea não foge a essa regra. Todas as dúvidas podem ser sanadas durante um bom pré-natal. E isso facilitará o processo de empoderamento e decisão para a escolha do tipo de parto”, pontua o especialista.
O plano de parto
Uma das formas de deixar registrados todos os desejos da gestante a respeito do nascimento do bebê é por meio do plano de parto. Segundo o médico obstetra, esse é um documento no qual ela irá detalhar, em vários aspectos, as expectativas sobre o parto. No plano de parto, poderá ser dito o tipo de parto que a grávida prefere, o local onde será realizado e quem será o acompanhante. Também pode-se dizer quem será a equipe, se a grávida quer uso de técnicas não farmacológicas de redução da dor, se quer ouvir música, se gostaria de se alimentar e que tipo de alimento irá preferir, dentre outros detalhes. “No plano de parto, a mulher pode detalhar a filosofia do parto dela. Faz parte do processo que a equipe entenda quais as expectativas da mulher sobre aquele momento. Esse plano pode ser construído junto com a equipe de assistência. Sabemos que o parto é muito do nosso lado animal, então a mulher costuma ir para o que chamamos de “partolândia”, entrar num estado irracional, no qual não consegue tomar decisões conscientes no meio do processo”, explica o especialista do Hapvida.
Direitos da gestante
A gravidez, o parto e o puerpério são muito mais do que eventos biológicos que ocorrem nos corpos femininos, são eventos sociais, que envolvem a pessoa gestante, sua família e a comunidade. Tais eventos integram a vivência reprodutiva de mulheres e homens, além de constituírem uma das experiências humanas mais significativas, tendo ‘forte potencial positivo’ e ‘enriquecedor’ para todos os envolvidos.
Dr. Antônio Carlos destaca ainda que todo médico obstetra deveria incentivar o parto normal. Todos os países desenvolvidos praticam 80% dos partos normais. Segundo ele, o Brasil é um país que faz cesárea porque foi passada erroneamente a cultura de que cesárea é o melhor. “O parto cesáreo não é o melhor para a mulher. É melhor para o médico. Por muito tempo o parto foi feito de forma errada, obscura e gerou o estigma de violência. Por isso, eu incentivo o parto normal, de forma carinhosa e humanizada para devolver a mulher o direito de escolha”, pondera.
O especialista afirma que dor é diferente de sofrimento. “É claro que o parto envolve dor e relação com a dor, mas a dor é diferente do sofrimento. Ter um filho não é sofrer. Por isso, nós médicos precisamos oferecer carinho, atenção e amor à gestante acerca do parto humanizado. Para que a gestante esteja próxima da família para que o momento de dor seja diferente de sofrimento”, sustenta.
O coordenador do programa “Nascer Bem” do Sistema Hapvida, Dr. Antônio Carlos Júnior fala sobre os indícios de violações aos direitos das gestantes e parturientes no Brasil, a exemplo dos altos índices de cesáreas e outras intervenções prescindíveis e cerceamento de autonomia que se tornam importantes fatores de desempoderamento e acentuação das violências para com as mulheres no processo de parturição. “O medo vem do desconhecimento. Romper a barreira do medo é oferecer conhecimento. Quem conhece não tem medo. A verdade é a luz do caminho. Então ensinar, no pré-natal como é o parto, como são as dores, como o bebê nasce é uma forma de desmitificar esse medo. E é isso que temos feito dentro do programa Nascer Bem, que por sua vez, tem alcançado o índice de 80% em partos normais e humanizados”, completa o especialista. (assessoria Hapvida)