“Cigarro eletrônico é ilusão, não é evolução”, diz especialista
Alta prevalência de tabagismo e introdução de novos produtos do tabaco, entre adolescentes, tornaram-se um cenário preocupante, um problema global, visto que o produto é altamente viciante e traz consequências para a saúde
Estudo realizado por pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Ministério da Saúde e IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) constatou elevadas prevalências de experimentação de narguilé, cigarro eletrônico e outros produtos do tabaco entre adolescentes escolares de 13 a 17 anos de idade. Entre eles, 22,6% já experimentaram cigarro alguma vez, porcentagem mais elevada entre os de 16 a 17 anos de idade 32,6% e no sexo masculino 35,0%. A experimentação de narguilé, cigarro eletrônico e outros produtos do tabaco também se mostra elevada, com 26,9%, 16,8% e 9,3%, respectivamente, sendo mais alta entre os escolares do sexo masculino de 16 a 17 anos.
A médica pneumologista do Grupo Hapvida NDI, Fernanda Máximo, lembra que o consumo do cigarro se espalhou pelo mundo com intensidade, com publicidades icônicas e marcantes. Nos anos 80, o hábito de fumar era associado a charme, elegância e poder. “Hoje é sinônimo de rebeldia. O uso do cigarro eletrônico tem se tornado cada vez mais comum, mesmo com a comercialização e a importação proibidas, o modismo ganhou força principalmente entre adolescentes e jovens”, ressalta.
De acordo com dados do relatório COVITEL (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), divulgado recentemente pela UMANE, um a cada cinco jovens, entre 18 e 24 anos, faz uso de dispositivos eletrônicos de fumo, no Brasil, o que equivale a 19,7% da população. O alerta é da especialista acerca do crescente consumo deste tipo de cigarro por jovens. “A adolescência é uma fase de iniciação de novos comportamentos sociais, os quais podem ser determinantes para a saúde durante a vida adulta, como o desenvolvimento das DCNT (Doenças Crônicas Não Transmissíveis)”, enfatiza.
Além disso, Fernanda Máximo ressalta que o consumo precoce do fumo é também, uma “porta de entrada” para o uso de outras substâncias, tais como álcool e drogas ilícitas: adolescentes fumantes, quando comparados aos não fumantes, consomem três vezes mais álcool, usam oito vezes mais maconha, 22 vezes mais cocaína” (WHO, 2011).
Por todos estes motivos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o tabagismo uma doença pediátrica, sendo a maior vulnerabilidade do adolescente à nicotina relacionada ao fato de o seu cérebro não estar ainda completamente desenvolvido.
“Os jovens ficam com ideia de que estes produtos alternativos fazem menos mal à saúde e que poderiam ajudar a parar de fumar. E isso não é verdade. Devemos ficar atentos às novas artimanhas das empresas tabagistas para conquistas de novos públicos”, alerta a pneumologista do Hapvida.
A especialista reitera que a nicotina provoca dependência química que faz com que o usuário do tabaco se exponha também à covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. “Ser fumante causa prejuízo a qualquer momento. Mas agora ainda mais. As pessoas levam a mão à boca, por exemplo. Uma vez fumante, a pessoa tem o risco aumentado de desenvolver a forma mais grave da doença pela fragilidade respiratória que o hábito de fumar provoca”.
A especialista entende que o país é um dos líderes no combate à doença, mas a venda dos produtos em redes sociais, por exemplo, é um inimigo. “Conseguimos avançar bastante e o Brasil é um modelo por ter uma política de controle desde a década de 1980. Tínhamos uma taxa de prevalência (no uso do cigarro) em torno de 34%. Na última pesquisa, temos 9,8% dessa prevalência.”.
A Dra. Fernanda Máximo destacou que a celebração do Dia Nacional de Combate ao Fumo celebrado no próximo dia 29 é uma oportunidade de promover maior conscientização desse público sobre os efeitos em um grupo com menos temor, incluindo prejuízos como mau hálito, diminuição de fôlego e impactos a questões estéticas e saúde sexual.